quinta-feira, abril 15, 2010

Quando dois valores entram em conflito


Um dos grandes poetas portugueses contemporâneos, e meu antigo professor, disse-me uma certa vez que o problema da nossa sociedade não é ter poucos ou nenhuns valores: é ter valores a mais! Concordo. E o que se aplica à sociedade, aplica-se igualmente a cada um dos indivíduos. E, sendo eu um indivíduo, aplica-se também a mim. É que eu, ao contrário do que à primeira vista pode parecer, também tenho valores, e por vezes esses valores chocam. Inevitavelmente...

Este caso é deveras ilustrativo: foi criado um grupo no Facebook contra a tolerância de ponto que o governo pensa dar no dia 13 de Maio, dia da visita do Ratzinger ao Portugal dos Pequeninos. Ora, eu, como ateu que sou, e daqueles mesmo arreigadamente ateus, daqueles que fazem o Richard Dawkins ou o José Saramago parecerem beatos de sacristia, estou de acordo. Não deve haver cá tolerâncias de ponto só porque o Papão vem cá: afinal, o Estado deve ser laico e o caraças! Em suma, o meu valor ateísta diz-me que este protesto faz todo o sentido.

Porém, a história não acaba aqui, uma vez que também estou contra este protesto! E estou contra porque possuo um outro valor, tão arreigado quanto o ateísmo, que me diz que sim, deve haver tolerância de ponto no dia 13 de Maio, sim, os funcionários públicos, e os privados, e os mistos, não devem trabalhar nesse dia. Esse valor é, já devem ter adivinhado, a preguiça! Enquanto preguiçoso, estou contra o protesto que está contra a tolerância de ponto!

Portanto, o que acontece neste caso é esta situação quase bizarra em que me encontro simultaneamente a favor e contra. E não consigo desatar este nó porque os valores que sustentam as minhas posições a favor e contra possuem exactamente o mesmo peso: ou seja, se eu fosse mais ateu que preguiçoso, estaria a favor do protesto; e se eu fosse mais preguiçoso que ateu, estaria contra o protesto! Mas não, a realidade é que sou tão ateu quanto preguiçoso e daqui não consigo sair. É um pouco como chegar junto de uma gelataria e me obrigarem a escolher entre um gelado de chocolate e um gelado de morango: eu escolheria ambos!

Já me viram bem esta merda?! E vocês, de que lado da balança estão? São mais ateus ou são mais preguiçosos? Por outras palavras: querem ir trabalhar no dia 13, ou querem ficar em casa? Isto é que está aqui um dilema, valha-me Bakunine...

2 comentários:

Rita disse...

Eu gosto mais de gelado de chocolate...
Jokas

Ilda disse...

Não sou ateia, mas quero lá saber do papa, portanto o lado preguiçoso fala mais alto e logo quero a tolerãncia!!!